Aí os poucos minutos que você conseguiu pegar no sono, sonha que está lutando
E então você coloca seu filhote no berço com todo cuidado pra ele não acordar, pega suas coisas sem fazer o mínimo barulho e aí você percebe uma movimentação vinda do berço e se depara com um ser que salta e sorri pra você.
Aí com todo cuidado você fica imóvel com a luz apagada, torcendo pra que aquela criatura que te judiou a noite inteira mais que depois daquele sorriso você nem lembra mais dos chutes que levou, pegue no sono novamente pra você poder sair tranquilo.
E eis que saio do quarto depois que ele deita novamente, mais enquanto me dirijo para outro cômodo da casa, escuto alguém choramingando.
Coração aperta porque tenho que deixar ele lá pra poder sair pra trabalhar, sem poder dar um beijinho nele, senão ele agarraria em mim, tornando a situação mais difícil.
Pai já está no carro esperando e eu ainda fico alguns minutinhos prestando atenção se o choramingo continua.
Silêncio no quarto (talvez porque ele esteja prestando atenção no barulho do motor do carro que vinha lá do quintal) e saio dizendo pra mim mesma, "Ele vai pegar no sono de novo, a avó está lá pra ficar com ele", e entro no carro me sentindo a mãe mais desnaturada, fria e sem coração do mundo por ter deixado ele naquele quarto escuro e sozinho.
E vou o caminho todo remoendo isso, lembrando também da vez que ele me agarrou não querendo ir pro colo da avó, sabendo que aquela hora era da mãe sair de casa e voltar só de tardezinha, e a mãe sai explicando que logo ela voltava, mesmo sabendo que esse "logo" demoraria dez horas.
Me torturo mais ainda sabendo o quanto é importante emocionalmente a presença da mãe nos primeiros anos de vida do filho, e fico imaginando as sequelas que deveria estar causando nele.
Marido falava comigo um assunto qualquer durante o caminho ao qual não conseguia prestar atenção alguma, meu pensamento estava lá em casa.
Ele percebe e solta um comentário -" O Davi é fogo mesmo!", e eu desabafo, -" Me sinto culpada de ter que deixar ele, "eu" sou a mãe, sou eu que devo estar com ele, ele deve sentir abandonado, deve sentir minha falta!
E aí meu coração aperta, fica pequenininho, e me sinto a pior das criaturas!